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FRAQUEZA


Embora houvesse pouca experiência,

Teu coração abriu-se para o amor;

Pra aquilo tudo que com tanto ardor

Eu tirei do fundo de minha essência. E então tentei mostrar com toda a ardência 
A força desse bem superior,

Que a tudo suplanta e transforma em flor,

Te adorando sempre com mais frequência.

Porém, pelo medo foste vencida;

As pressões e os preconceitos da vida

Se confundiram com a felicidade.

E nessa batalha entre o sim e o não,

Dentro da arena do teu coração

O amor perdeu para a imaturidade!


VISÃO DE SEMPRE

Na transparência da vidraça eu te senti.

Teu corpo trajado em bela e sedosa manta,

Ressaltava-se por entre uma auréola santa,

Cujo brilho, minha alma colheu, e eu sorri.

Teus pés de seda, se assentavam em nuvens puras;

Teus braços, a mim estendidos, afloravam

Daquela colossal imagem, e apelavam

Por um imenso amor, prometendo loucuras!

A sonora poesia que de ti fluía,

Extravasou meu peito em jorros de alegria;

E eliminou de mim, a sombra do desgosto.

Foi então que alcei meus olhos e percebi

O quanto ainda estava só — e estremeci!

Pois tua miragem tão linda. . . não tinha rosto


                DISFORIA
Eu quero amar! Meu Deus, quero viver!
Eu quero amar!

Da fossa imunda de um viver a só

Quero sair!

As nuvens negras, do meu coração

Quero afastar!

Ternura, aspiro novamente haver;

Quero sorrir,

Quero te ver, quero te ter; teu pó

Quero inalar.

E o forte impacto, da tua paixão,

Quero sentir!

No cais rosado do teu rosto angélico

Quero aportar;

A porta aberta dos teus olhos lassos

Quero invadir!

Na suave queda dos soltos cabelos,

Quero afundar!

O brilho audaz do teu sorriso bélico,

Quero ingerir!

No manso berço dos teus mornos braços,

Quero sonhar!

E o mel, e a seiva dos teus lábios belos,

Quero extrair!

No calmo leito do teu jovem colo,

Quero acostar!

A marcha esbelta, de nobre gazela,

Quero seguir!

Com passo aberto de um bolero antigo,

Quero bailar!

E a melodia da tua voz, em solo,

Eu quero ouvir!

E a paz tranquila, que tua tez revela,

Quero alcançar!

E com a carícia do teu corpo amigo,

Quero partir!...


VIAGEM SEM FIM

Um passageiro do comboio da ilusão!

É o meu refrão; imagem torpe do que sou.

Sem companheiro, pela vaga estrada vou

Reconhecendo as estações da solidão.

As paisagens, ante mim, nada mais são

Que opacas cópias da saudade que restou.

E nas paragens do meu mundo a paz voltou

A se omitir, a se ocultar no sim-ou-não.

E de certeza e incerteza, meus anseios

Mais avolumam os meus pensamentos cheios,

Mais interferem no vagão da minha sorte.

A paz em si só representa uma bagagem

Que junto a mim, pagou tributo de passagem;

Que em vão transita pelo expresso "Vida-Morte" !

EU SÓ! SÓ EU!


Já que tudo se acabou,

Já que o nosso amor morreu;

Já que a vida é solidão,

Vou viver somente eu!

Eu sozinho, eu comigo,

Eu, só eu, somente eu!

Eu sorrindo, eu chorando,

Eu tão culto, eu plebeu;

Eu passando, eu correndo,

Eu sonhando com Morfeu;

Eu embaixo, eu em cima,

Rastejando no apogeu;

Eu calado, taciturno,

Ruminando o tédio meu;

Tão livre, despreocupado

Com a falta do afeto teu.

Eu sereno, eu dos anjos,

Eu, só eu, somente eu!

Vou cantando, versejando,

Na poesia que nasceu

Da tristeza, do abandono,

Da angústia que cresceu

Neste meu ferido peito,

Já que o nosso amor morreu!


SE EU MORRESSE AMANHÃ.


Quantas vezes alguém perece em vida

Sofrendo a angústia de um amor desfeito!

E muito embora a dor lhe aperte o peito,

Consola-se na lágrima vertida.

E cerra os olhos (lembrança sentida).

Rememora o passado, satisfeito

De carregar um coração estreito,

Porém saudoso da paixão perdida.

Por isso é que eu me enlaço na paixão.

Por isso é que eu creio na salvação

Da alma, pelo amor que se perdeu.

Porque quem vive sem paixão. . . não vive!

Quem a domina. . . só metade vive!

Quem por ela morre. . . ao menos viveu!