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SETEMBRO VAZIO

. . .E começou a Primavera lá fora, sim. . . lá fora,
Porque aqui dentro ainda está frio, vazio;
Lá fora, brotarão sorrindo as flores, as cores,
Aqui. . . somente restará o espanto, o pranto.
Pergunto por entre a saudade:
- É tão difícil ser verdadeiro?
Pergunto ao horizonte inteiro:
- Por onde andará a verdade?
Pergunto, do meio da dor:
- Onde estará a sorte minha?
Pergunto a uma certa filhinha:
- Que foi feito do nosso amor?
. . .E continua a Primavera lá fora, sim. . . lá fora,
Porque aqui dentro está chovendo, doendo;
Lá fora, germinarão sorrisos, e risos,
Aqui... as lágrimas ficarão minando,
até quando?!


INÚTIL SOFRIMENTO


Meus sonhos se foram pelo caminho de volta;
Minhas ilusões seguiram com retorno certo.
Minhas ideias, ensimesmadas, já decerto
Encheram meu coração de infeliz revolta.
Qual pode ser a penitência por um pecado,
Por um erro natural de amor - - o jnesmo amor
Que ora se enraíza em mim, provocando a dor
De um conformismo inexistente, já passado?
Acaso, em tais condições, não poderá um ser
Desfrutar a felicidade? Direito ter
À bênção divina de "amar e ser amado"?
Esperançado aguardo um assentimento teu,
Pois sei que ao refletir melhor, concluirás que eu
Sou osso e carne. . . mortal amante. . . não culpado!


ESTÍMULO


Madrugada - - frígido espectro da manhã;
Esperança os teus olhos suprafixos têm;
Semifluídas lágrimas já se antevêem
Brilhando impuras sobre tua face louçã.
Incauta aguardas, numa ansiedade vã,
Que os loucos sonhos que tua mente entretém,
Qual lenitivo as paraciências contêm,
Possam sorrir-te e te trazer sorte sã.
Não te amofines! Ergue tua fronte e desperta!
Desencilha-te dessa vida-pó incerta;
O novo dia é hoje, é já, é agora!
Aspira aromas, cores, sons, a vida enfim!
Vive o presente -- Ama! — pois agindo assim,
Venturas ficam. . . e tudo o mais vai embora!


ETERNO FADO


Um coração sangra, e lentamente morre;
A paz se vai, se esvai, se escoa no abismo;
E a embriaguez do tédio vence o lirismo,
E o breu da noite, sobre a esperança escorre.
A imagem torpe de tão sofrida alma,
Vaga intranquila por veredas errantes;
A mágoa aflui, e sepulta o viço que antes
Se efetivava em luz, em vida, em calma.
É findo o prazo; é tarde; a dor já se impõe;
Sonhos, ilusões, tudo se decompõe;
A chama ardente da ruína se acendeu.
Queimem-se velas! Aos céus derivem rezas!
Caiam lágrimas em louvor às tristezas!
O amor morreu dentro em mim! O amor morreu!...


RECADO


Vento! Carregue esta pétala de rosa
Embebida no meu mais profundo amor!
Vá entregar à minha amada, por favor!
Àquela, dentre as belas, a mais airosa!
Vá soprar-lhe ao ouvido minha paixão!
Vá dizer-lhe que ansioso ainda espero;
Que ainda a invoco em sonhos; que ainda quero
Com seu beijo apagar minha solidão!
Não a assuste! Deposite em seus cabelos
Esta réstia de saudade, de ilusão,
Mensagem de puro amor, pura afeição.
Peca-lhe, pra mim, carinhos e desvelos,
Que hão de ter suave sabor de gotas d'água
A abrandar meu coração pleno de mágoa!


REFLEXIONANDO


Quanto pode resistir um ser humano
Sem afeto, sem carinho, sem amor?
Quantas penas, quanta angústia, quanta dor.
Pode ter um coração por um engano?
Que maldita equação nos impõe a vida:
"- Te enganaste? Expia com o infortúnio!"
É como se na hora do plenilúnio
A voz possessa do demo fosse ouvida.
Resignado espero, dos céus, anistia;
Confiante, pressinto aproximar-se o dia
Em que, por fim, os meus males cessarão.
Repleto do mais sublime amor, suplico:
Suaviza meu padecer, somente um tico,
E aceita-me com todo o ardor da paixão!